Há quem diga que emagrecer é tão fácil quanto difícil. Esse paradoxo revela o quanto a questão é relativa, já que diversos fatores interferem no processo. Desde a genética e predisposição física, passando por hábitos diários, até barreiras psicológicas e emocionais, tudo tem sua carga positiva ou negativa na hora de encarar a balança. De acordo com o psicólogo da clínica Holiste Cláudio Melo, o desejo de emagrecer deve advir da escolha consciente e autêntica  do indivíduo. “Querer cumprir metas predefinidas pela ditadura da beleza pode surtir o efeito contrário ou levar a um processo de adoecimento”, alerta. Segundo Melo, devemos nos mover em busca de encontrar nosso próprio sentido para levantar da cama todos os dias, trabalhar, fazer atividades físicas, buscar uma boa alimentação, e assim por diante. Ou seja, o primeiro passo vem da motivação interna, pessoal e intransferível, nosso principal combustível.

ANSIEDADE E STRESS

A nutricionista Vanessa Bulcão ratifica que o aspecto psicológico é um dos mais relevantes quando o assunto é emagrecimento e saúde, e a parte emocional seria o grande problema da nossa sociedade. “80% dos pacientes que atendo sofrem de ansiedade extrema e/ou de excesso de stress na vida pessoal ou no trabalho”, revela. A nutricionista explica que tanto a ansiedade quanto o stress liberam neurotransmissores e hormônios como o cortisol e adrenalina, que alteram todo o metabolismo. Essas substâncias causam compulsão alimentar, acúmulo de gordura - sobretudo abdominal, perda de massa muscular, piora da função tireoidiana, entre outros problemas. “Por isso, estratégias para modular o stress e a ansiedade do dia a dia andam juntos com uma dieta adequada e com um estilo de vida saudável. Entre elas, destaco a Yoga, a meditação e a prática de atividade física, principalmente ao ar livre”, ressalta.

PSICO FREIOS

Alguns fatores psicológicos e emocionais acabam pondo a perder todo o esforço destinado a uma dieta ou à prática de exercícios físicos. Aquela velha história de nadar, nadar e morrer na praia parece que acompanha o repertório de pessoas que não conseguem atingir seus objetivos de emagrecimento, por mais que façam várias tentativas. “Supõe-se que a experiência de felicidade é o único norteador da existência humana, contudo somos motivados também por fatores “negativos”, sejam eles racionais ou não”, afirma Cláudio Melo. O psicólogo explica que existe uma parte de nós que nunca está satisfeita e que busca sempre uma solução imediata e sem esforço para obter satisfação. “Por vezes, essa busca urgente e incansável pode gerar desprazer ou dor, mas mesmo assim continuamos seguindo essa trilha” completa.

RIGHT NOW!

Esse imediatismo do aqui e agora muitas vezes faz com que o sujeito rejeite qualquer planejamento necessário no sentido de alcançar os objetivos. O personal trainer Júnior Reis também acredita que o imediatismo é o que leva muitas pessoas a desistirem do treino ou da dieta. “Tem aluno que quer resultados mais visíveis e efetivos em apenas dois meses. E quando não conseguem, acabam se sabotando ou perdendo o foco”, afirma. O personal lembra que o processo de transformação do corpo costuma ser lento e exige bastante determinação e disciplina. Sem conseguir os resultados almejados ou fazendo comparações com pessoas que já adquiriram um corpo dentro dos padrões de beleza “aceitáveis”, muitas pessoas também partem para dietas da moda, sem consistência, ou remédios sem eficácia comprovada. Outra coisa que atrapalha muito, de acordo com Júnior Reis, são pessoas ao redor que desmotivam ou desviam aquele indivíduo do objetivo. “É muito importante ter uma vida social, não se tornar radical na dieta ou na atividade física. Mas não pode deixar a exceção virar regra”, completa.

DEVAGAR E SEMPRE?

Vale lembrar que devemos ter muita calma não só na hora de buscar os resultados de uma dieta. Comer devagar, mastigando bastante os alimentos, de fato facilita a digestão e favorece o emagrecimento. “Essa é uma estratégia que parece banal, mas que faz toda a diferença no tratamento”, garante Vanessa Bulcão. Segundo a nutricionista, quando mastigamos com calma estimulamos a produção de um hormônio chamado CCK que reduz o apetite. Como resultado, ingerimos menos comida e menos calorias no fim da refeição. “Além disso, o nosso estômago não possui “dentes”. E por isso, quando não mastigamos direito acabamos forçando demais o nosso estômago, exigindo uma quantidade maior de enzimas e de ácido clorídrico para a digestão”, explica a especialista. Se alimentar em intervalos menores de tempo, como de três em três horas, também pode ser benéfico para quem deseja perder peso. Mas isso não vale para todo mundo. Vanessa Bulcão pondera que muito tem se falado no jejum, e que essa também pode ser uma excelente estratégia. Ela acredita no que funciona para cada paciente. Em alguns casos, comer de 3 em 3 horas ajuda muito no controle da ansiedade e na compulsão alimentar, principalmente para aqueles que atacam a geladeira à noite.

NÃO DEU “MATCH”

Outra questão a considerar é saber as combinações que devem ser evitadas para obter melhores resultados na dieta. “As piores combinações,  na minha opinião, são os alimentos ricos em açúcares e glúten. Bolos, pães, massas, biscoitos, pois ambos os ingredientes possuem um grande poder inflamatório”, afirma Bulcão. Além disso, a ingestão de líquidos no momento das refeições também deve ser evitada. O ideal seria o consumo de líquidos 30 minutos antes, e uma hora após a refeição. O fundamental a se ter em mente, segundo o psicólogo Cláudio Melo, é que a determinação em busca dos objetivos é construída por cada um, não há receita genérica. Ele recorreu ao mestre Caetano Veloso, em sua música “Dom de Iludir”, para lembrar que “cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”. E é nisso que cada pessoa deve se inspirar, seguir o seu caminho, do seu jeito,  alcançando os seus objetivos.