VOCÊ TEM MEDO DE QUÊ?
Os fantasmas do preconceito, da violência, culpa e julgamento ainda atormentam a mulher moderna pelo simples fato de ser MULHER
O discurso alinhado de que as mulheres não têm nada de sexo frágil e já conquistaram espaços que antes eram de usufruto exclusivo dos homens, todo mundo sabe de cor. O que ainda parece camuflado em nossa sociedade - e que faz toda a diferença! É a forma desigual com que homens e mulheres são, de fato, tratados em diversas situações do cotidiano, seja no âmbito familiar, profissional ou social.
“Minoria absoluta ”
O Brasil soma mais de 100 milhões de mulheres, que correspondem a 51% da sua população e, ainda assim, elas possuem baixíssima representatividade no poder, ou seja, em cargos políticos de liderança.
E olha que os partidos têm que cumprir uma cota mínima de 30% de mulheres candidatas. Mas não passa disso. Muitas, inclusive, só fazem figuração para cumprir a cota, não ganham o mesmo espaço para expor suas ideias e menos ainda colocá-las em prática. No caso das organizações privadas, a situação não é diferente. “Hoje até se fala em cotas para mulheres ocuparem cargos de chefia nas grandes empresas. Existe uma desigualdade ainda muito grande no mercado de trabalho”, relata a advogada Mariana Lisboa. “O que vemos é que para a mulher alcançar um posto de destaque ela tem sempre que dar um passo a mais que o homem”, pontua. O número de mulheres bem sucedidas aumenta exponencialmente. Mas ainda, proporcionalmente, fica bem atrás dos homens. Quando conquistam um lugar de destaque, ganham notoriedade. “Se uma mulher alcança um posto de comando no mercado de trabalho, vira capa de revista. Quero ver o dia em que isso se tornará algo natural”, ressalta Mariana Lisboa.
Mais estudo, mais trabalho, menos remuneração
Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2013 mostram maior escolarização das mulheres. De um total de 173 milhões de pessoas com mais de 10 anos de idade, 9 milhões de mulheres possuem mais de 15 anos de instrução, contra 6,5 milhões de homens. Ainda assim, elas ganham menos. E não é que elas trabalhem menos, tampouco. A mulher costuma enfrentar dupla jornada de trabalho. Para analisar a quantidade de trabalho de homens e mulheres, o IBGE recomenda a análise da Síntese de Indicadores Sociais. O documento mostra que, em média, os homens brasileiros trabalham 41,6 horas fora de casa e 10 horas no ambiente doméstico, por semana – são 51,6 horas no total. Para as mulheres, os números são diferentes. Elas passam 35,5 horas semanais no “trabalho principal”, mas também empregam 21,2 horas nos afazeres domésticos – mais que o dobro do trabalho doméstico masculino. No somatório, são 56,7 horas semanais de trabalho, 9,8% a mais que os homens. O documento aponta ainda que, mesmo trabalhando mais, as mulheres recebem menos por hora trabalhada. Em média, a mulher que trabalha (no mercado formal ou informal) recebe 77% do salário registrado pelo homem.
Chefe de família
Se existe um cargo de chefia que boa parte das mulheres ocupa no Brasil é o de chefe de família. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), quase 40% das mulheres sustentam a maior parte dos lares brasileiros. São chefes de família que batalham para colocar comida na mesa e pagar as contas, mesmo com diversas funções simultâneas. Aliás, cuidar da casa e da família é uma função quase sempre atribuída à mulher. Se o homem divide algumas atividades domésticas com a companheira, sobretudo na criação dos filhos, é motivo para elogios. Sendo que a obrigação é de ambas as partes, ou seja, o homem não deve ajudar, mas fazer a parte dele. A executiva Verena Kirchhoff admite que as responsabilidades que se impõem à mulher, sobretudo em casa, é maior que as dos homens.
No entanto, enxerga isso como oportunidades. “Acho que a mulher acumula diversas funções entre trabalho, casa, filho, vida pessoal, etc. Mas, sinceramente, não vejo isso como um problema e sim como uma grande oportunidade de viver diversos tipos de experiências, que são únicas e que são só nossas”, declara.
Mulher maravilha
A mulher, sobretudo aquela que vivencia a maternidade, ainda é cobrada a desempenhar diversas funções com presteza, celeridade, dedicação e perfeccionismo. Quem nunca julgou uma mãe por ter cometido alguma “falha” com seus filhos ou ter deixado algo fora da ordem em seu lar, mesmo que isso tenha sido algo pontual e que não dependia exclusivamente da mulher? A estilista Irá Salles afirma que, no mundo de hoje, vemos uma mulher muito cheia de papéise com isso muitas cobranças. “Acho que o grande medo da mulher é falhar em algum desses papéis que temos, seja como mulher, mãe ou profissional. A pressão para que tudo seja perfeito é muito grande, mas devemos admitir que se algo falhar não devemos carregar essa culpa que nos persegue”, declara. A executiva Verena explica que não se sente culpada por não ser sempre nota 10 em tudo que faz. “Aprendi com o tempo que é melhor manter o equilíbrio e, às vezes, ser nota 7, mas dar conta de tudo, fazendo o melhor que posso com muito amor”, declara. Quando o assunto é a filha, o coração bate mais forte. “Tenho medo sim, de não estar viva para educar e criar minha filha Cecília. Por isso, rezo todos os dias pedindo saúde”, conclui.
Mamãe, mamãe, mamãe!
A empresária Lara Kertsz declara que não se sente sexo frágil, não se sente mais desafiada por ser mulher. “Não penso nisso para realizar nada! Aliás, por ser uma pessoa impulsiva, eu não penso muito para fazer as coisas, eu simplesmente faço!”, afirma. Já quando o assunto são os filhos, o seu ponto fraco vem à tona. Lara assume que tem medo de perder momentos importantes da vida dos filhos, por conta da correria que é a sua vida profissional. “Tenho medo de não conseguir acompanhar tão de perto como eu gostaria o dia a dia deles, as vivências com os amigos, na escola. Me preocupo ao imaginar os desafios que eles irão enfrentar”, pontua. O receio de não estar presente na vida dos filhos é um medo predominante entre as mulheres. Contudo, elas se desdobram para dar o melhor de si. Lara Kertsz revela ter medo de perder saúde ou de não saber orientá-los da melhor maneira para lidar com situações complicadas. “Mas tenho certeza que, tendo o amor como base, passarei para eles o melhor de mim dando sempre noções de caráter e respeito ao próximo”, explica. “Também tenho medo da injustiça, da maldade humana, de pessoas que não têm Deus no coração”, conclui.
Violência velada
A violência também é um motivo de atormento para as mulheres, sobretudo quando se trata dos filhos. Certamente o maior medo de todos é o da perda, seja por questões de saúde, acidente ou violência. Mas a mulher também sofre com um tipo de violência que é motivada por uma questão de gênero. O Brasil tem 1 denúncia de violência contra mulher a cada 7 minutos. Esses são dados da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República (SPM-PR), do total de relatos de violência registrados pelo serviço Ligue 180 da Central de Atendimento à Mulher em 2015. Desses casos, a maioria das agressões aconteceu em relações íntimas de afeto, sendo que 50% foram de violência física; 30% de violência psicológica; 7% violência moral; 2% violência patrimonial; 4,5% violência sexual; 5% cárcere privado; e 0,50% referiram-se a tráfico de pessoas. Dados recentes, relativos ao carnaval de 2016, mostram que os relatos de violência contra a mulher quase triplicaram neste período, em relação ao período equivalente no ano passado. Um total de 3.174 mulheres telefonou para o Ligue 180 entre 1º e 9 de fevereiro deste ano, enquanto que no feriado de 2015 foram 1.158.
Marias da Penha
Já a Pesquisa Avaliando a Efetividade da Lei Maria da Penha (Ipea, março/2015) apontou que a Lei nº 11.340/2004 fez diminuir em cerca de 10% a taxa de homicídios contra mulheres praticados dentro das
residências das vítimas. Ou seja, os casos de violência ainda chocam, tendo em vista que vivemos em pleno século XXI, mas, felizmente, os números estão decrescendo. As campanhas, debates e, principalmente, as denúncias (que ainda estão aquém do real, por diversos motivos) têm influenciado bastante nesse avanço.
As conquistas femininas seguem progredindo, embora ainda o machismo prevaleça, muitas vezes de forma velada. Futilidade, falta de inteligência ou habilidade, superficialismo, interesse financeiro, consumismo são características atribuídas constantemente às mulheres, pelo simples fato de serem do sexo feminino. Uma piada aqui, um olhar diferente acolá, buscam minar a autoestima da mulher. Mas ela é bem mais que isso. Sigamos, mulheres, fortes, frágeis, suaves, rígidas, inspiradoras, simplesmente mulheres! O dom de poder gerar a vida deve nos conceder uma dose a mais de sensibilidade. Mas mulheres ou homens todos temos sonhos, fraquezas, anseios, talentos, cada um a sua maneira. Essa é a graça da vida, a graça da diversidade. Tenhamos as mesmas oportunidades de sermos felizes.
Conhecida por muitos como o "mal do século", a Síndrome do Pensamento Acelerado (SPA) é um dos...
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